Família compra casa, se muda e meses depois descobre golpe

Reprodução G1


Fonte: G1

Uma família relata que se mudou para um imóvel acreditando que o tinha comprado em Praia Grande, no litoral de São Paulo, após negociá-lo com um corretor e pagar à vista mais de R$ 35 mil de entrada. Porém, dois meses depois de se mudarem, as vítimas encontraram uma placa de "vende-se" na frente da casa, e descobriram que, na verdade, haviam caído em um golpe. A Polícia Civil investiga o caso. Um corretor de imóveis é suspeito pelo crime.

A auxiliadora escolar Ana Carolina da Costa Bonfim, de 27 anos, relatou ao G1 que ela e o marido, que moravam em São Paulo, faziam pesquisas em março deste ano, por meio de uma rede social, quando localizaram um imóvel na Avenida Wilson de Oliveira, no bairro Jardim Melvi, que estava sendo vendido por R$ 38 mil a título de entrada, por um corretor de imóveis. "Pesquisamos e vimos que o corretor tinha Creci, então, fomos até o imóvel ver se era real, que não era um golpe", diz ela.

As vítimas combinaram de conhecer o imóvel no dia 28 de março. Após visitarem a casa, o marido de Ana fechou negócio e transferiu a entrada para a conta bancária do corretor. No dia 1º de abril, assinaram o contrato de promessa de venda e compra no cartório. "Além da entrada, fechamos os valores das parcelas referentes ao resto do valor da compra da casa, e fomos informados do valor do IPTU. Resolvemos nos mudar já no dia 16 de abril, e em maio já pagamos o que achamos que era o financiamento da casa, mas que, na verdade, era uma mentira", relata a auxiliadora.

Ana relata que, na semana retrasada, ela e o marido tiveram uma surpresa ao voltarem do supermercado. "Quando chegamos, tinha uma placa de venda, que parecia se referir à minha casa. Sem entender, liguei para a imobiliária, me passando por cliente, perguntando qual seria a casa que estava à venda. A moça me disse que era a casa 3, o número da minha casa, e eu falei 'mas quem te deu autorização para isso?'. Então, ela me disse que tinha sido a própria proprietária", relembra.

Segundo Ana, ela ficou assustada, porque a corretora disse o nome da proprietária que realmente constava no cartório como antiga dona do imóvel, quando ela foi fechar o contrato de compra e venda. "Eu mandei para o corretor, e ele disse que já tinha ligado na imobiliária, e que eles iriam tirar a placa. No outro dia eu insisti, liguei de novo lá, e mandei a foto do contrato, que mostrava que comprei a casa. Aí, a moça me aconselhou a contatar um advogado, porque ela já estava em contato com a proprietária, e me mandou o contato dela", explica.

A auxiliar mandou mensagem para a proprietária do imóvel, e a mulher explicou que não havia assinado nenhum contrato de venda, e sim, de locação. "Eu questionava o corretor, e ele tentava falar que a proprietária estava tentando me enrolar, e que o contrato era seguro. Quase acreditamos nele. Ele ainda disse que a gente podia ficar com o carro dele como garantia, que ele iria voltar, mas o carro nem era dele, era locado. No fim, eu a proprietária descobrimos que o corretor, na verdade, havia enganado nós duas", relata.

A proprietária do imóvel explicou à vítima e à polícia que realmente colocou o imóvel à venda, mas com o corretor em questão, disponibilizou somente para locação. Também disse que não assinou nenhum contrato de compra e venda do imóvel, e que a assinatura que consta no contrato feito pelo corretor não é sua.

"Ela explicou que conversou com o corretor, e ele disse que havia locado a casa, e que o inquilino estava interessado em comprar. Ela me mostrou que, nos meses de maio, junho e julho, o corretor enviou um comprovante de depósito para ela no valor de R$ 900, referente ao aluguel da casa, ou seja, como se o imóvel dela estivesse alugado. Então, as parcelas que ele tinha dito para mim e para o meu marido que seriam o financiamento da casa eram, na verdade, o aluguel, um falso financiamento que ele inventou", diz Ana.

Ana e o marido, assim como a proprietária do imóvel, compareceram à delegacia para registrar boletim de ocorrência contra o corretor de imóveis. Conforme registrado na Polícia Civil, a proprietária relatou que o corretor teria assumido a ela que havia feito aquilo porque estava devendo para agiotas. "Ele disse que iria devolver o dinheiro, que não tinha gastado, mas demorou alguns dias, e só devolveu nesta quarta-feira [28], depois que fiquei muito em cima, mandando mensagem e cobrando o dinheiro. Ele fala tão bonito que você não imagina que seria capaz disso", relata a auxiliadora.

"A gente vendeu a casa em São Paulo, se desfez de todos os móveis. Tínhamos investido tudo, achando que estávamos mudando para a nossa casa própria, já mobiliada, até que descobrimos esse golpe. E não está fácil, meu marido está desempregado há cerca de um mês. Nunca imaginamos que passaríamos por isso", finaliza Ana.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informa que o caso é investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo 1º DP de Praia Grande, e que o suspeito foi intimado a prestar depoimento. A SSP também destaca que diligências seguem em andamento visando ao esclarecimento dos fatos.

Também por meio de nota, o Conselho Regional de Corretores de Imóveis de São Paulo (Creci-SP) informou que, no dia 23 de julho, foi instaurado um processo ético-disciplinar contra o corretor. No momento, ele está em análise pelo Departamento de Ética e Disciplina (Dedis) do órgão.

Ainda de acordo com o Creci, o corretor foi devidamente notificado pelo Departamento de Fiscalização. Toda a documentação emitida também está sendo analisada pelo Dedis, e ele tem um prazo legal de 15 dias úteis para apresentar defesa. Esse prazo expira em 19 de agosto.

Defesa

O advogado Osmar Justino dos Reis, que representa o corretor, afirma que a versão do cliente dele é que o imóvel estava disponível para venda, e que há o contrato da negociação. "Ele quis resolver todo o ocorrido, fazer um termo de acordo, e teve como principal intuito restituir o dinheiro à família de Ana. Mesmo assim, meu cliente foi ameaçado diversas vezes para fazer logo o PIX. Chegaram a quebrar a chave do veículo dele. Ele está vivendo um inferno desde então, sob ameaça", diz a defesa.