Como gerenciar com eficácia

Uma bela lição

Variadas tecnologias sobre como gerenciar bem nos são continuamente apresentadas, quase que num processo de ondas: gerência por objetivos, gerência por resultados, gerência pela qualidade total; “coaching”, etc.  Cada uma nos é vendida como sendo a “ultima palavra” em administração, deixando-nos claro que, se não a adotarmos, estaremos fora do cenário, perdendo terreno para a concorrência.  Cada uma delas faz o seu marketing, referindo-se a empresas que as teriam adotado e que, com isso, teriam obtido resultados altamente positivos. 

Sempre nos questionamos: será que não existe uma maneira simples, funcional, “tupiniquim”, de administrar, de gerenciar uma empresa – algo que pudéssemos analisar, entender, extrair conceitos, implantá-los e colher bons resultados? 

Existe, e não apenas uma, mas várias. Vejamos uma bastante interessante. Tomemos como modelo gerencial a festa de nossa formatura na faculdade. Isso mesmo: a nossa formatura na faculdade propicia-nos elementos maravilhosos para aprimorarmos o modo como gerenciamos.  Constatem:

Em nossa entrada na faculdade e nos anos que se seguiram, discutíamos em grupos, definíamos se teríamos ou não uma festa de formatura.  Após avaliarmos os prós e os contras, decidimos, sempre em grupo, que teríamos a nossa festa!  Maravilha: acabamos de definir, com clareza e factibilidade, o nosso objetivo!

A existência de um objetivo claro e viável é básica para o sucesso administrativo-gerencial. 

Observem que aquele objetivo não nos foi imposto. Chegamos a ele por meio de  ampla discussão, procurando obter o consenso entre as pessoas diretamente interessadas.

Assim devemos agir no campo empresarial: não impor nossos objetivos aos demais, mas discuti-los, ouvir e acatar opiniões, remodelá-los, aprimorá-los, sempre procurando obter o consenso entre as pessoas que compõem nossa equipe – afinal, o objetivo não pode ser “meu”, mas sempre “nosso”, do grupo, da família, da equipe!

Tínhamos um objetivo claro, viável a alcançar: teríamos nossa festa de formatura.

O passo seguinte foi escolher, nomear, entre os formandos, uma comissão de formatura, para a qual escolhemos pessoas, nossos colegas, que, em nossa opinião,  reuniam condições pessoais de liderança e possuíam capacidade e habilidade para, trabalhando em equipe, tornar realidade o nosso objetivo. 

No campo empresarial, aqui está a escolha, a indicação, a formação de uma equipe técnico-profissional, competente e hábil para conduzir a nossa empresa e cada um de nossos departamentos à consecução de seus objetivos. É a formação, a constituição das várias  equipes gerenciais!

Possuidores de um objetivo, e agora contando com uma comissão, uma equipe encarregada de torná-lo realidade, passamos a discutir, sempre em harmonia com os formandos, as estratégias necessárias à obtenção dos recursos; as várias atividades a serem realizadas e por quem – definindo com clareza as responsabilidades, os níveis de autoridade; delegando atribuições e indicando quando, em que momento do tempo, as atividades deveriam acontecer.  Eis aqui as tarefas de planejamento e organização!

Planejar é estabelecer, antecipadamente, as estratégias a adotar, os recursos a empregar e as etapas a vencer para concretizar um dado objetivo.  Como resultado do planejamento, temos um programa de ação, indicativo da ocorrência das várias etapas no tempo e dos responsáveis pela realização de cada etapa. Assim, nos é possível delegar atribuições e autoridade, determinar procedimentos e tarefas a serem realizadas.

No nosso caso, constituíram-se em estratégias para obter os recursos necessários à formatura: a determinação de uma contribuição mensal de cada formando; a realização de eventos festivos, rifas, etc. Constituíram-se em providências: a contratação dos locais, do buffet, gráfica, orquestra; etc.  A delegação de atribuições e autoridade ocorreu pela indicação das pessoas que seriam as responsáveis pela efetiva realização daquelas providências.

Até aqui, possuíamos um objetivo claro, uma equipe, um planejamento, uma organização.  O que se seguiu a isso?  A ação, o trabalho! O comando! Isso mesmo, o comando! Sem comando, não há planejamento e organização que se viabilizem! Cada um tem que fazer a sua parte e cuidar para que todos cumpram com os deveres que lhes foram designados para que o objetivo possa ser atendido. Nada se realiza sem trabalho, muitas vezes, intenso, pesado!

Você se recorda de algum companheiro da comissão de formatura haver reclamado por ter de realizar a sua parte?  Ou de parar suas atividades e fazer greve para obter um salário ou aumentar o salário que já percebia? Seguramente não!  Por quê? Simplesmente porque cada um estava consciente de sua responsabilidade, de seu valor como componente da equipe.  Cada um estava motivado, integrado e se sentia necessário. Durante todo este trabalho, o que fazia a Comissão de Formatura? Ficava parada, sem nenhuma ação?  Não! Seus membros coordenavam todo o processo, verificando se cada um cumpria adequadamente com suas atribuições, dirimindo dúvidas, ouvindo sugestões, modificando procedimentos, etc.

Exatamente o que devemos fazer como coordenadores das ações de nossas equipes nas empresas.  Eis um misto das funções de coordenação e de controle – não o controle final, mas o controle durante a execução, exercido pela comissão e pelos integrantes de cada equipe – eis aí a contínua preocupação com os níveis de qualidade de nossos produtos e/ou serviços!

Quem não recorda, com muita emoção, de sua festa de formatura: a cerimônia de entrega de diplomas; a festa de culto ecumênico; o baile – e que baile!  Fatos que jamais esqueceremos. Sucesso total!  Graças ao trabalho de toda uma equipe liderada pelos componentes de nossa comissão de formatura! 

No caso empresarial, agindo de modo semelhante, conseguimos alcançar os objetivos determinados, para cada área e para a empresa com um todo e até a suplantação de vários deles, graças à ação de uma equipe diretivo-gerencial, dotada de capacidade, habilidades, disposta a trabalhar com determinação e entusiasmo! Emoção! 

Administrando nossas empresas de modo semelhante como fizemos para a concretização de nossa formatura, conseguiremos atingir os objetivos estratégicos e operacionais, com efetividade (eficiência e eficácia), obtendo ganhos de competitividade, melhoria contínua de resultados e principalmente, teremos uma empresa mais humana, mais fraterna, mais amiga. 

Afinal, “nós”  somos a empresa, não é verdade?

 

Antonio Carlos Cassarro

Sócio-Diretor da CTO – Consultoria e Treinamento Organizacional
Mestre em Tecnologias de Ensino pela FAAP
Professor de pós-graduação FAAP e várias IES do Estado de S. Paulo 
Conselheiro do CRA-SP