SP tem 3.500 imóveis ligados a empresas registradas em paraísos fiscais

Quase 3.500 imóveis localizados na cidade de São Paulo, com valores que, somados, superam os US$ 2,7 bilhões, estão ligados a offshores, empresas registradas em paraísos fiscais. A conclusão é de um novo estudo da organização anticorrupção Transparência Internacional, que levanta uma preocupação sobre o potencial uso de propriedades imobiliárias para lavagem de dinheiro, uma vez que a ausência de informações sobre a estrutura societária das offshores impossibilita a identificação dos verdadeiros responsáveis por tais imóveis. Mais precisamente, são 3.452 as propriedades, e elas estão registradas no nome de 236 empresas controladas ou ligadas a offshores. Quase 90% dessas empresas se concentram em cinco localidades: Ilhas Virgens Britânicas, Panamá, Suíça, Estados Unidos e Uruguai. Os imóveis, por sua vez, se acumulam em alguns dos endereços mais nobres da capital paulista. Ainda de acordo com o levantamento, a área total dessas propriedades equivale a 53 milhões de metros quadrados. NO MAPA Ao longo do trecho que liga as avenidas Chucri Zaidan e Engenheiro Luiz Carlos Berrini, há 820 imóveis do tipo, avaliados em aproximadamente US$ 370 milhões. Na avenida Paulista, a Transparência Internacional encontrou 195 propriedades na mesma situação, que valem US$ 38,4 milhões. Outras 67 propriedades foram contabilizadas na avenida Brigadeiro Faria Lima, somando mais US$ 42 milhões. Nos Jardins, são 109 espaços que correspondem a US$ 122 milhões. A pesquisa ressalva que tais companhias não são necessariamente ilegais, mas protegem o verdadeiro responsável de escrutínio público, porque não é necessário registrar a identidade do dono por trás da empresa, razão pela qual esse tipo de estrutura acaba, muitas vezes, sendo usada para ocultar ganhos resultantes de atividades ilícitas. CERVERÓ ``Não estamos dizendo que são esquemas ilegais, mas a experiência internacional aponta que essa estratégia é usada em corrupção. E a experiência brasileira mostra esse uso em casos como o imóvel do [ex-diretor da Petrobras Nestor] Cerveró em Ipanema e o trust do [ex-presidente da Câmara] Eduardo Cunha``, diz Bruno Brandão, representante da Transparência Internacional no país. A pesquisa ``São Paulo: a corrupção mora ao lado?`` será divulgada nesta segunda-feira (10) pela organização. Fabiano Angélico, autor do estudo, descreve as dificuldades enfrentadas na tentativa de levantar as identidades dos verdadeiros beneficiários dos imóveis. ``Precisamos de um sistema transparente e fácil de consultar. Ficamos um ano inteiro examinando documentos. Nos dias atuais, deveria ser possível com mais agilidade. As tecnologias já existem, só precisamos de vontade política``, afirma o autor. Os pesquisadores coletaram dados na Junta Comercial e cruzaram com informações sobre propriedades de imóveis na cidade, mas o material foi considerado insuficiente para identificar os beneficiários finais. COMO COMBATER Ainda no estudo, a Transparência Internacional cita meios de combater a ocultação de dados que favorecem a lavagem de dinheiro. ``Uma das nossas recomendações é que as Juntas Comerciais dos Estados passem a publicar os dados com mais transparência porque são informações públicas. E uma recomendação global é que cada país tenha um registro unificado das empresas com as informações do beneficiário final``, afirma Angélico, autor do estudo. Fonte: Folha de São Paulo