Mudanças e oportunidades

» » Texto veiculado no jornal O Estado de São Paulo dia 01/04/2017

Estamos em constante transformação, felizmente. Afirmo isso porque se não houvesse mudanças capazes de nos dar novo fôlego, já teríamos sucumbido ao caos de nosso cotidiano. Na economia e no mercado imobiliário, as coisas também não são diferentes. Entre os sobes e desces apresentados pelos noticiários, buscamos encontrar explicações suficientes que direcionem nossos negócios e nos coloquem à margem de crises e dificuldades financeiras. Na última semana, a CAIXA divulgou seu balanço de 2016, com destaque para os números do crédito imobiliário, que sempre foi o carro-chefe da instituição. Entre janeiro e dezembro do ano passado, R$ 81,8 bilhões foram contratados e garantiram a aquisição da casa própria de milhares de famílias em todo o País. Somaram-se a esse valor outros R$ 35,9 bilhões concedidos pelo SBPE, segundo levantamento da Abecip - Associação Brasileira das Empresas de Crédito Imobiliário e Poupança. Entretanto, uma breve análise no histórico da CAIXA nos leva, em um primeiro momento, a crer que vivemos um período parco em recursos, na comparação com o que já presenciamos no passado: os quase R$ 135 bilhões contratados em 2013, por exemplo. A concessão de crédito sempre foi um bom termômetro para a compreensão do nosso mercado. E se assim é, o que dizer, então, de 2011, ano em que a CAIXA concedeu praticamente o mesmo montante de 2016 para o financiamento de imóveis? Bem, há 6 anos, o mundo vivia um período pós-crise financeira e todos os atores desse cenário buscavam a melhor maneira de ajuste aos novos papeis. O ritmo de vendas de imóveis novos em São Paulo, no entanto, superava a média histórica, mesmo sentindo os reflexos da crise nos EUA e na Europa. No que se refere ao mercado de usados, o Estado de SP também apresentou resultados positivos naquele período, registrando um acumulado no volume de vendas de 0,52% nos doze meses de 2011, de acordo com a pesquisa CRECISP. Ou seja, com um montante de R$ 80 bilhões concedidos pela CAIXA, sem contar os R$ 44,7 bilhões do SBPE, não houve sinal de esmorecimento e, ao contrário do que se esperava, continuamos acelerando nossos motores, até superar todas as expectativas em 2013, com a concessão dos quase R$ 135 bilhões. Voltando para o momento atual, assim como 2011, no ano passado nosso País também atravessou inúmeras turbulências, em um clima de desconfiança, protestos, desemprego e denúncias de corrupção. As incertezas sobre o impeachment, a disputa que dividiu os brasileiros entre ``nós e eles``, a economia passando por um período de recessão e as altas taxas de juros disputaram espaços nas manchetes dos jornais. Ainda assim, os mercados de venda de imóveis usados e de locação fecharam o período com saldo positivo e preços corrigidos abaixo da inflação. O saldo das vendas de usados acumulou alta de 21,43% e o de locação fechou em alta de 19,75%. Em outras palavras, os resultados do mercado imobiliário não refletiram as nuvens negras e tempestades que se alardearam. Converso muito com os colegas de todo o Estado, e também de outras partes do País e sinto que essa onda de pessimismo que tentou se instalar em nosso segmento já está, aos poucos, se dissipando. Os negócios estão se mantendo equilibrados, talvez de uma forma mais ``pé no chão`` do que nos tempos em que a concessão de financiamento quebrava todos os recordes. Nosso setor traz em seu bojo uma infinidade de novas possibilidades e é em momentos como esse que o conhecimento e a criatividade surgem como diferenciais entre os profissionais. É tempo de fazer parcerias, de criar networking, de readequar os negócios às novas tecnologias e saber usá-las a nosso favor. As perspectivas são reais e apontam para uma estabilidade nos preços das propriedades, o que é bom para todas as partes do negócio. Preços mais próximos da realidade promovem uma recuperação econômica e uma queda na inflação que pode atrair novos investidores ao segmento. Consumidores em busca de imóveis não faltam e, em sua maioria, certamente, farão a aquisição por meio de financiamento bancário. E de parte dos corretores, otimismo também não falta para que possam assistir - e logo - a um bom aquecimento no mercado. Mesmo que não retornemos rapidamente à situação de pleno emprego, como já vivemos no passado, e que os empresários e as famílias continuem cautelosos, é certo que, ao menos, não estamos mais em uma curva econômica descendente. A tendência, assim, é de que um novo ciclo de ascensão possa ter início em um curto período de tempo. O momento é propício para retomar a confiança no País, com base em reformas políticas, e tributárias que possam confirmar a chegada da tão esperada estabilidade. José Augusto Viana Neto, presidente do CRECISP