'Temos uma importância social, econômica e de segurança patrimonial'

Texto veiculado no jornal O Estado de São Paulo dia 07/01/2017

Essa foi uma das constatações expostas pelo presidente do CRECISP, José Augusto Viana Neto, durante palestra ministrada na sede do Conselho, na última semana. Viana falou sobre a disputa que vem sendo travada entre os profissionais do segmento imobiliário e os aplicativos que se propõem a executar a mesma tarefa de aproximação das partes, com a vantagem de não cobrarem comissão para tal. Segundo o presidente, a corretagem de imóveis é uma atividade que surgiu da percepção do Estado brasileiro de que havia um desequilíbrio cultural na relação entre compradores e vendedores de imóveis que, invariavelmente, gerava sérias injustiças sociais. "As transações envolvem muito dinheiro e, na maioria das vezes, representam todas as economias de uma vida. Assim, nos anos 40, 50, com o aumento significativo no volume de negócios imobiliários, o abuso do conhecimento sobre os mais humildes também foi muito grande. O Estado achou por bem, então, criar uma profissão que representasse um esteio, um porto seguro à sociedade nessas negociações, pois precisava de um profissional que protegesse as partes contratantes da desonestidade e da falta de ética. O corretor é o único anteparo entre as partes." Viana ressaltou que essa é uma carreira que exige preparo técnico especializado, pois o profissional está submetido e deve respeito, seriedade e fidelidade a todos os envolvidos no negócio. "É uma atividade dificílima, pois estamos entre duas partes com interesses totalmente antagônicos. Quem vende quer obter o maior preço possível e quem compra, quer pagar o mínimo. Temos que equilibrar os dois interesses. Visto dessa forma, é preciso que se crie uma consciência de que o cliente terá no corretor alguém para assessorá-lo, e não simplesmente um vendedor de imóveis." Para o presidente, o surgimento de aplicativos que proporcionam o contato do proprietário com eventuais interessados em nada difere dos antigos anúncios de jornais, nos quais afirmava-se não aceitar corretores na negociação. "Vejo que, assim como esses anúncios, os aplicativos não terão vida longa, pois lhes falta uma característica essencial: a segurança." Viana levou os participantes a refletirem sobre os riscos de o proprietário agendar uma visita pela internet e receber um desconhecido em seu imóvel, sem que tenha havido uma triagem prévia ou que se tenha qualquer referência sobre esse pretenso cliente. "Quantos casos são noticiados de sequestros, estelionatos, roubos, quando não são tomadas as devidas precauções! Infelizmente, vivemos em um mundo em que uma parcela das pessoas busca a obtenção de vantagens fáceis em cima da ingenuidade alheia." Nessa linha de raciocínio, antes de se preocupar com as novas ferramentas tecnológicas, é imprescindível que o corretor valorize sua profissão, atuando em consonância com o Código de Ética que a rege, evitando atritos entre as partes e, principalmente, promovendo a segurança patrimonial, que é a razão fundamental dessa atividade. "O legislador pensou no corretor como o profissional destinado a manter o equilíbrio da transação, em todos os sentidos. Em alguns países, ninguém compra ou vende imóveis sem o intermédio do corretor, porque nesses locais a sociedade já compreendeu essa mensagem. Um aplicativo jamais vai conseguir substituir a nossa atividade pela simples razão de não ter condições de desempenhar todo o trabalho que somente um profissional experiente e gabaritado está apto a fazer."