'Nosso futuro depende do nosso presente'

Texto veiculado no jornal O Estado de São Paulo dia 24/09/2016

Em 2013, dois pesquisadores da Universidade de Oxford produziram um estudo com o intuito de examinar a susceptibilidade das profissões à informatização. Eles analisaram em detalhes 702 ocupações para descobrir de que forma a tecnologia poderia impactar na extinção dessas atividades no futuro. Os resultados, amplamente divulgados na época, voltaram a ser comentados na última semana, após uma publicação de uma consultoria, que repercutiu em vários sites e veículos de comunicação. Muitos colegas demonstraram um misto de indignação e surpresa - compartilhando com o CRECISP esse sentimento - ao constatarem que a profissão de corretor de imóveis estava entre as fadadas ao desaparecimento até 2025. Ao lado de outras ocupações - como a de contador, digitador, caixa e árbitro - a corretagem tende, segundo o estudo, a não existir mais por conta, especialmente, dos avanços da tecnologia. Se fizermos um retrospecto sobre o surgimento das inovações tecnológicas ao longo do tempo, certamente vamos nos deparar com situações muito parecidas, onde um tipo de tecnologia ou de atividade profissional se viu ameaçada pela chegada de outro. Sempre vai haver alguém para analisar esses impactos e as previsões podem até se confirmar, dependendo das condições em que determinada atividade se encontre. No caso da categoria de corretores de imóveis, cabe uma reflexão a respeito da informatização de processos e de como essa questão pode ser prejudicial ou benéfica à atividade. Acredito que a primeira pergunta que surge nessa polêmica é saber se as pessoas estão dispostas a destinar as economias de uma vida à aquisição de imóvel cuja indicação e ``assessoria`` foram obtidas através de um aplicativo. Em sã consciência, é possível que um cliente esteja efetivamente disposto a excluir o contato pessoal com o corretor, confiando totalmente na tecnologia para negociar preço, checar documentação, buscar melhores condições de financiamento, enfim, desempenhar todo o trabalho que somente um profissional experiente e gabaritado está apto a fazer? Indo mais adiante em nossa análise, todos sabemos que carreiras que têm como premissa básica a interpretação humana e que são altamente influenciadas pela emoção, dificilmente serão substituídas por máquinas e, de uma hora para outra, deixarão de existir. A meu ver, a busca pela concretização do sonho da casa própria pode, sem dúvida, agregar algumas facilidades, como a procura através dos anúncios de internet e a visita on line, que otimizam o tempo, especialmente dos que vivem em grandes cidades e perdem horas em congestionamentos. Mas quem ficará responsável por ``executar a mediação com a diligência e prudência que o negócio requer (...), prestando todas as informações sobre o andamento dos negócios``? O cliente se sentirá amparado e seguro ao receber esses esclarecimentos via aplicativo? Inovação é muito bem-vinda quando é utilizada de maneira equilibrada. Não podemos nos conformar e aceitar que máquinas possam substituir os homens, até mesmo em campos mais amplos, como o da criatividade. Quando assumirmos que a tecnologia poderá acabar com os empregos, então teremos chegado ao ponto em que será imprescindível repensarmos nossos valores. Há muitos anos, pelos idos de 1986, cheguei a presenciar um futurólogo americano que esteve no Brasil e disse, também, que a profissão de corretor de imóveis estaria extinta antes do ano 2000. E cá estamos nós, 16 anos depois, buscando novos horizontes de trabalho e ganhando na justiça o reconhecimento e o direito de recebermos nossos honorários pela assessoria devidamente prestada! O corretor de imóveis jamais vai ser substituído por um aplicativo. Basta pensar na intermediação de imóveis para uso comercial, industrial, uso corporativo, de chácaras, de fazendas, imóveis especiais... Só corretores com muita habilidade vão conseguir fazer. Somente esse profissional pode proporcionar segurança entre as partes que estão contratando. Vivemos em um País de livre iniciativa, capitalista, e temos, sim, que nos adaptar aos novos cenários, incorporando a tecnologia em nosso dia a dia, sem permitir que ela nos substitua. Corretor de imóveis é uma profissão do presente e com muito futuro! José Augusto Viana Neto, presidente do CRECISP