Um desafio paulistano

Texto veiculado no jornal O Estado de São Paulo dia 20/08/2016

Recentemente, o jornal O Estado de São Paulo divulgou uma matéria comentando dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo relativos à concentração do valor imobiliário da cidade. O texto ressaltou que dos 2,2 milhões de proprietários de imóveis da Capital, 1&, ou 22,4 mil pessoas, detêm R& 749 bilhões em casas, apartamentos, terrenos e outros bens. Isso significa que 45& do valor dos imóveis paulistanos, o que equivale a 820 mil casas e apartamentos, estão concentrados nas mãos de apenas 1& dos proprietários. Cada dono tem, em média, 37 imóveis, o que representa um patrimônio individual de R&33 milhões. Se levarmos em consideração a totalidade da população paulistana, que em 2011 já esbarrava na casa dos 12 milhões de habitantes, somente 0,18& dos moradores da cidade são proprietários das casas e apartamentos mais valiosos da Capital. Quando nos aprofundamos na análise desses números, podemos traçar um mapa da própria expansão da cidade, e de como essa dinâmica proporcionou grandes diferenças sociais e regionais. Quase metade dos imóveis mais valiosos fica em 10 dos 96 distritos mais valorizados da Capital, como Itaim, Moema e Vila Mariana. Outra parte é representada por galpões industriais em bairros tradicionais como Lapa, Brás e Vila Leopoldina. Completando o total estão os terrenos na periferia. É interessante notar, também, que apenas 1.840 imóveis em São Paulo são considerados na categoria F, designada pela legislação paulistana para descrever propriedades de alto padrão, com mais de 750 m². Essas mansões, em sua maioria, ficam nas regiões mais nobres da cidade e suas áreas, somadas, são equivalentes a mais de dois parques do Ibirapuera. O cenário é realmente discrepante, embora comum em grandes metrópoles como a nossa. Mas ele também traz implícita a mensagem de que ainda há muito por fazer em termos de política habitacional no município. Na maior cidade brasileira convivem duas realidades opostas. Em paralelo a esse patrimônio concentrado nas mãos de poucos, a cidade abriga mais de 1.600 favelas, e 1 em cada 4 paulistanos vive em assentamentos precários, nas áreas mais distantes da cidade e expostos à precariedade também dos serviços de saneamento básico e abastecimento de água e luz. O déficit habitacional do município chega a quase 370 mil unidades. A cidade carece de um processo de reurbanização, que integre os moradores ao município, e promova o aumento de ofertas de novas moradias, atendendo ao direito social previsto pelo artigo 6º da nossa Constituição Federal. É um desafio, sem dúvida, ao próximo gestor a ser eleito, trabalhar para que haja uma diminuição nesse desnível, que promova impactos positivos na construção de empreendimentos com boa infraestrutura e localizados em zonas mais próximas do centro. Os paulistanos merecem!